domingo, 13 de janeiro de 2008

O processo de decisão e o planejamento financeiro pessoal

O processo de planejamento financeiro pessoal é o cerne do trabalho do planejador financeiro. Por tamanha importância, essa etapa é rigorosamente abordada pelo Financial Planning Standards Board (FPSB) como forma de prestarmos serviços de consultoria de elevada qualidade a nossos clientes. Contudo, apesar de o processo de planejamento financeiro ser resultado de um trabalho extensivo, que requer capacitação e entendimento das necessidades, das restrições e dos objetivos do cliente por parte do profissional CFPTM, tem-se a impressão de que a parte mais difícil do planejamento financeiro é sua implantação. Mas por que será que isso ocorre?

Administrar os próprios recursos implica uma tomada de decisão intertemporal: consumir hoje e pagar amanhã ou consumir amanhã e pagar hoje. Em outras palavras, deve-se escolher entre antecipar um consumo e pagar, muitas vezes, juros por isso (ainda que representado como custo de oportunidade), ou postergar o consumo e pagar, hoje, quantia menor que a do primeiro caso (ou pagar valor equivalente e consumir mais no futuro).

Apesar de relativamente simples, esse processo de tomada de decisão com resposta binomial é influenciado por uma série de fatores que podem, em linhas gerais, ser aglutinados em quatro grupos: culturais, sociais, pessoais e psicológicos. Se em alguns países do leste asiático predomina a parcimônia com relação aos gastos, representada pelos elevados índices de poupança de países como o Japão, esse traço cultural se expressa de outra maneira dentro da cultura norte-americana, caracterizada por elevados índices de consumo.

Da mesma forma, o consumidor é influenciado por vários aspectos sociais: o grupo de referência de que pretende fazer parte, valores que a família a que pertence cultiva e até mesmo a busca por status impactam o processo de tomada de decisão. Além disso, alguns fatores pessoais também são responsáveis por influências durante o processo decisório. Dentre eles, a idade do consumidor, sua ocupação, sua situação financeira, seu estilo de vida e sua personalidade contribuem para influenciar a tomada de decisão.

O quarto grupo capaz de influenciar o processo de tomada de decisão diz respeito a fatores psicológicos, como crenças, atitudes e motivação para a compra. Da mesma forma, faz também parte desse grupo a percepção da realidade, processo pelo qual indivíduos organizam e interpretam suas impressões sensoriais, com a finalidade de dar sentido a seu ambiente. Assim, o comportamento se baseia não na realidade em si, mas na percepção da realidade.

Essa percepção, por sua vez, também impactará de maneira significativa os processos decisórios, matéria-prima para os estudiosos da chamada Psicologia Econômica, campo de estudo que começou a se destacar principalmente após Amós Tversky e Daniel Kahneman terem sido laureados, em 2002, com o Prêmio Nobel de Economia. Críticos da Teoria da Utilidade, Kahneman e Tversky formularam a Teoria do Prospecto, que parte do princípio que o processo decisório é dependente do referencial (reference-dependent) e que, portanto, não se pode esperar tomada de decisão baseada em aspectos puramente racionais, como prega a Teoria da Utilidade (reference-independent).

Nesse sentido, os pesquisadores apontam para os efeitos do acesso a informações (accessibility) e da forma como essas informações são dispostas ao tomador de decisão (framing) como potenciais influenciadores do processo decisório.

Assim, não se pode desprezar a importância de tantas influências no processo de tomada de decisão durante as fases implantação e acompanhamento do planejamento financeiro. No papel, parecem ser muito claros os benefícios dos juros compostos ao longo do tempo, assim como a postergação do consumo em muitos casos. Contudo, na prática, a situação nem sempre aparece de forma tão clara e simples.

Para lidar com essa situação, o consumidor precisa tomar conhecimento dessas influências e procurar continuamente aprimorar seu processo de tomada de decisão. Para isso, o estabelecimento de metas pode tornar essa tarefa menos árdua, à medida que cada centavo mal gasto contribuirá para postergar a realização dos objetivos. E, nesse contexto, o planejador financeiro pessoal desempenhará um importante papel para fornecer insumos, como forma de viabilizar o alcance de metas e, em última instância, contribuir para manutenção de uma vida financeira saudável de seus clientes.

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