domingo, 13 de janeiro de 2008

Aquela dieta que (nunca) se inicia na próxima segunda-feira

O mercado financeiro viveu dias de euforia em 2007. O Ibovespa bateu recordes atrás de recordes de pontuação, o risco-país recuou a patamares mínimos históricos e muitas empresas lançaram, com sucesso, seus papéis na bolsa, operação conhecida como IPO (Initial Public Offer).

Em que se pese o mau humor dos mercados no segundo semestre, precipitado externamente com a crise das hipotecas imobiliárias norte-americanas de alto risco (subprime), e internamente pelos primeiros indícios de aceleração dos índices inflacionários, 2007 cravou o quinto ano consecutivo de ganhos do Ibovespa.

Durante o ano, conforme recordes eram quebrados, alguns investidores passaram a questionar se não estávamos diante de uma bolha prestes a estourar, como o ocorrido com a bolsa de Nova York, em 1929, e com a bolsa eletrônica Nasdaq, já em finais do século XX. Apesar de a discussão ser acalorada e possuir defensores de ambos os lados, certamente esse assunto não esteve presente na maioria dos lares brasileiros.

Conforme a Pesquisa de Orçamentos Familiares do IBGE (disponível em www.ibge.gov.br), mais da metade população brasileira manifestou ter alguma dificuldade para chegar ao final do mês com o rendimento auferido no mesmo período, independentemente da classe econômica. Diferentemente daqueles investidores, titubeantes quanto ao futuro do mercado financeiro, esses brasileiros têm como preocupação a chegada do final do mês. Por que será que isso ocorre?

Por um lado, nota-se no Brasil forte concentração de renda e índices de pobreza relativamente altos. Por outro, constata-se que administrar os próprios recursos não é tarefa fácil. Nesse sentido, mesmo alguns que ganham acima da média nacional ainda têm problemas para viver com a renda auferida, como mostra a mesma pesquisa do IBGE: 55% das famílias com rendimento mensal superior a R$ 6 mil afirmaram ter dificuldade para chegar ao final do mês com dinheiro no bolso.

Sendo assim, aprender a lidar com o próprio dinheiro talvez seja uma alternativa interessante e necessária para todos, principalmente para aqueles cujos recursos cessam antes do recebimento do próximo salário. Administrar as finanças pessoais, diferentemente do que se costuma pensar, não envolve necessariamente ser um hábil usuário de planilhas eletrônicas ou se privar de prazeres e desejos de consumo.

Antes de tudo, é importante frisar que qualquer pessoa possui objetivos, desejos de consumo e necessidades básicas, como alimentação, vestuário, saúde. Porém, há um limitador para todos esses pontos: a renda pessoal ou, em outras palavras, o dinheiro que se tem disponível mensalmente. E, quando se tem uma restrição, invariavelmente tem-se um processo de tomada de decisão pela frente.

Assim, administrar bem os próprios recursos está diretamente ligado ao processo de decisão com relação ao consumo. Esse processo, por sua vez, sofre inúmeras influências: psicológicas, individuais, sociais, ambientais, entre outras.

Se você não consegue chegar ao final do mês com dinheiro no bolso, será que não está na hora de uma auto-reflexão quanto ao seu envolvimento com processos de compra e aos aspectos que influenciam sua tomada de decisão?

Outro ponto importante para aprender a lidar com o próprio dinheiro é estabelecer objetivos factíveis e que não impliquem significativas privações no presente; caso contrário gerir seus próprios recursos será como aquela famosa dieta que pretendemos iniciar na próxima segunda-feira. Dieta essa que, dadas tantas influências e tantas privações que são impostas, não resiste ao primeiro pedaço de um bolo de chocolate que nos passa à frente.

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